Estou lendo a biografia da magnífica escritora Clarice Lispector (que a cada dia fico mais fã) e mais ou menos no meio do livro senti que seria a hora de reler um livro dela. O livro chama-se uma aprendizagem ou livro dos prazeres. Li quando adolescente para o vestibular e agora fazendo uma releitura é assombroso de tão maravilhoso.
Clarice consegue prender a atenção do começo ao fim, pois chama a personagem até nós para descobrirmos juntos a sua identificação no mundo. Então de maneira envolvente e em um ato simples do cotidiano a personagem e os leitores descobrem situações que estavam sendo discutidas em várias páginas realizado tarefas do dia a dia. Por exemplo ao comer uma maçã na sua cozinha a personagem Lóri descobre a sensação do amor:
"Só deu uma mordida e depositou a maçã na mesa. Porque alguma coisa desconhecida estava suavemente acontecendo. Era o começo - de um estado de graça."
Antes Lóri ensina aos leitores que é que se "deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente. foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, este teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que quero. Mas quero inteira com alma também."
O livro começa com uma vírgula e termina com dois pontos. Por quê? Simples... o livro é só um pedacinho da vida. Os leitores tem a eternidade depois.
É uma aprendizagem para aprender quem somos, sobre renascer dentro de nós mesmos e não somente esperar o momento de se entregar para o amor.
Maravilhoso e recomendado.
Abraços
