Zygmunt Bauman, filósofo polonês recentemente falecido, disse em uma entrevista sobre o envolvimento das pessoas com seus semelhantes
no mundo de hoje. As pessoas na era da informática, são descartáveis facilmente
em apenas um clicar e as relações humanas que outrora eram feitas através do
contato, são “coisificadas” e assim, o rompimento de uma relação fica mais
acentuado. Ele diz também que amigos das redes sociais são ilusão, pois na vida
nos relacionamos com certo número de pessoas que nos auxiliarão na caminhada
pela vida e que ter milhares de amigos virtuais não significa nada, a não ser
que pode ser facilmente descartados conforme discutido anteriormente.
Bauman foi auto de vários livros dentre eles modernidade
líquida, amor líquido. Nestes livros ele discute principalmente as incertezas
do capitalismo, onde as pessoas hoje prezam mais o consumo e a produção
acelerada e sendo assim, as relações afetivas são afetadas pela mudança neste
estilo de vida, onde não há mais solidez nas relações humanas, daí as
incertezas do capitalismo.
O consumismo e a produção acelerada, muitas vezes em
detrimento ao meio ambiente, promove alterações nas relações humanas,
principalmente no fenômeno das redes sociais. As pessoas buscam felicidade
rápida, satisfação dos desejos de forma acelerada, menos duradouros e menos
profundos, e como consequência grande transformações na família moderna.
No livro - amor líquido Sobre a fragilidade dos laços humanos
- Bauman discute o relacionamento humano. “O principal herói deste livro é o
relacionamento humano. Seus personagens centrais são homens e mulheres, nossos
contemporâneos, desesperados por terem sido abandonados aos seus próprios
sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do
convívio e pela mão amiga com que possam contar num momento de aflição,
desesperados por “relacionar-se” e, no entanto desconfiados da condição de
“estar ligado” em particular de estar ligado “permanentemente” para não dizer
eternamente, pois temem que tal condição possa trazer encargos e tensões que
eles não se consideram aptos nem dispostos a suportar, e que podem limitar
severamente a liberdade de que necessitam para — sim, seu palpite está certo —
relacionar-se... Em nosso mundo de furiosa “individualização”, os
relacionamentos são bênçãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não
há como determinar quando um se transforma no outro. Na maior parte do tempo,
esses dois avatares coabitam embora em diferentes níveis de consciência. No
líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos talvez sejam os
representantes mais comuns, agudos, perturbadores e profundamente sentidos da
ambivalência”.
A abordagem sobre questões da era da internet, informatização
da vida e a velocidade de informações, a maioria das vezes sem conteúdo, são
discutidos por Bauman. Os estímulos rápidos e o bombardeamento de informações
acaba transformando a nossa forma de enxergar o mundo, sendo que muitas vezes
as pessoas não corresponderão a essas velocidades de informações e o
atendimento das expectativas criadas.
Essas relações são permeadas pela facilidade de conectar e
desconectar. A vantagem das relações na modernidade líquida é a facilidade de
descartar e tirar responsabilidade, ou seja sair da relação quando não está
atendendo as expectativas, velocidades e anseios rápidos da modernidade.
Com a mudança no comportamento social, as questões sociais
acerca os refugiados também são afetadas. Com as relações humanas cada vez mais
distantes. Ainda segundo Bauman em seu livro “Strangers at our door” os
europeus veem os refugiados não somente como estrangeiros, mas como estranhos.
O grande número de imigrantes desalojados, pobres, famintos e com matrizes
culturais muito diversas da europeia tem gerado nos países de destino uma
sensação de estranheza e um temor difuso. A Europa estaria sob a crescente
sensação de ameaça aos seus referenciais culturais, aos padrões civilizatórios
da cristandade ocidental e às respectivas identidades nacionais. Os refugiados,
em sua maioria muçulmanos, além de encargos socioeconômicos, são percebidos
como uma ameaça ao modus vivendi
europeu. O grande contingente de migrantes estaria comprometendo a crença
europeia em uma homogeneidade nacional. Nesse ponto, Bauman está denunciando a
persistência cultural do pensamento do constitucionalista alemão Carl Schmitt
(1888-1985), contido em obras como Teologia Política e o Conceito do Político,
em que povo é conceituado como uma comunidade de destino, que se diferencia dos
demais povos exatamente por sua homogeneidade política interna. Esse é o
fundamento do conceito étnico-cultural de cidadão, defendido por Schmitt e que
parece estar no inconsciente coletivo europeu, explicando a estranheza e ameaça
“sentidas” diante dos refugiados muçulmanos.
No texto Bauman ainda faz referências à crescente
fortalecimento da extrema direita por conta do fundamentalismo terrorista,
alegadamente islâmico, a fim de combater a “invasão muçulmana”, encontrando
repercussão nas pautas de agentes políticos e da grande mídia.
Por fim, em um mundo líquido, onde as pessoas ficam cada vez
mais distante uma das outras ou seja são “coisificadas”, Bauman ainda discute que
toda a humanidade deve assumir sua responsabilidade política, social e humanitária
para com os refugiados e defende ainda que o refugiado seja compreendido, não
como um estranho, mas como nosso Outro, pelo qual somos responsáveis.
Referencias:
http://www.fronteiras.com/artigos/zygmunt-bauman-o-medo-dos-refugiados
https://jota.info/artigos/ultima-licao-de-bauman-10012017
https://www.youtube.com/watch?v=LcHTeDNIarU
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