sábado, 21 de novembro de 2015

MPB E A DITADURA MILITAR 2 - Pra não dizer que não falei das flores


Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
(Geraldo Vandré)


Composição: Geraldo Vandré




Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)


Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos

 
 
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(4x)


 
Esta composição de Geraldo Vandré talvez seja a música símbolo da resistência à ditadura no Brasil, já possuindo enorme valor simbólico na cultura brasileira. Produzida em uma fase de endurecimento do regime militar, seus versos incitam a população a resistir, quase de forma heróica, e a lutar para derrubar os militares do poder, exaltando a força da sociedade civil. A música começa com uma afirmação de igualdade entre os brasileiros (importante lembrar que na época a desigualdade social crescia e que parte da sociedade, especialmente a que vivia no interior, pouco ou nada sabia da situação política real). E partindo desse princípio o autor convoca a população a “seguir a canção”, ou seja, a lutar contra o regime e avançar politicamente, garantindo direitos iguais para pessoas que são, por princípios, iguais. É importante observar que o autor quer garantir direitos mesmo àqueles que não se opuseram até então ao regime por quaisquer motivos.
Para o compositor, não há tempo há perder: a população tem de agir. Para ele, esperar é um mau sinal e vai contra o princípio de participação das massas, especialmente considerando os abusos cometidos a todo instante naquela época. (“Vem, vamos embora, que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”). Este trecho é repetido muitas vezes ao longo da música, é a principal mensagem do compositor para seu público.
Na estrofe seguinte, Geraldo Vandré fala sobre os contrastes sociais do Brasil (“Pelos campos há fome em grandes plantações”). Mesmo com terra sobrando e comida sendo produzida, nossa produção vai para o exterior e os brasileiros passam fome. Logo depois, Vandré faz referência à "geração Paz e Amor" dos anos 60, que ficou conhecida por manifestações pacíficas pedindo mudanças sociais em todo o mundo, sendo um grande movimento cultural. Os versos são “Pelas ruas marchando indecisos cordões/ Ainda fazem da flor seu mais forte refrão/ E acreditam nas flores vencendo o canhão”. Em “Há soldados armados, amados ou não/ Quase todos perdidos de armas na mão/ Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição/ De morrer pela pátria ou viver sem razão”, o autor fala sobre os militares, mas de um jeito diferente das outras músicas do período: ele os humaniza e não deposita a culpa total por agirem como agiam. O autor coloca que há um motivo por trás, que os soldados foram doutrinados a agir daquele jeito
Em “Nas escolas, nas ruas, campos, construções/ Somos todos soldados, armados ou não/ Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Somos todos iguais braços dados ou não/ Os amores na mente, as flores no chão/ A certeza na frente, a história na mão/ Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Aprendendo e ensinando uma nova lição”, Vandré também classifica a população como “soldados”  pois também lutam por uma causa. E não classifica somente a parcela da população que fez resistência armada, também exalta aqueles que nada fizeram diretamente para acabar com a ditadura. Estes merecem ser chamados de soldados pois estão no mesmo time, pois estes também serão beneficiados com a queda dos militares. Assim, ele reafirma a tese de que todos são iguais.
Geraldo Vandré escreveu essa música em 1968, em meio ao auge da ditadura militar brasileira. O sucesso da canção que incitava o povo à resistência levou os militares a proibi-la, usando como pretexto a "ofensa" à instituição contida nos versos "Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição / de morrer pela pátria e viver sem razão". A melodia da canção tem o ritmo de um hino, e sua letra possui versos de rima fácil (quase todos em ão), que facilitam memorizá-la, logo era cantada nas ruas. Com sua letra, Vandré fez uma síntese de sua geração, retratando a angustia da população perante o regime.

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